CONVERSANDO SOBRE DEPRESSÃO E ALGUMAS PRÁTICAS QUE PODEM AJUDAR A SUPERÁ-LA – Carla Mirelle
Hoje quero compartilhar com você algumas práticas para lidar e superar a depressão.
Primeiramente vamos conversar brevemente sobre o processo da depressão.
Na palavra do poeta… depressão é a tristeza que adoeceu…
Pode parecer estranho, mas tem muito sentido. Às vezes a tristeza é confundida com depressão, e , distingui-las é essencial para começar o caminho da cura.
A tristeza é uma emoção natural e saudável. Nos entristecemos quando perdemos algo ou alguém. O corpo físico e psíquico sente aquela falta e diversos hormônios são liberados para nos dar o tempo necessário para ficarmos quietinhos, processando e nos organizando. A tristeza é fria. O corpo precisa de um tempo para se reaquecer e recuperar a energia necessária para seguir adiante. A tristeza faz parte dos processos do luto. A tristeza pode conduzir a uma necessidade de isolamento temporário para chorar e expressar a dor, a falta. O corpo energético também leva um tempo para restaurar o corte dos cordões de energia sutil que nos ligam aos outros seres e lugares, por isso terapia floral e trabalhos de toque sutil ajudam muitos nos processos de perdas.
Quando a tristeza chega é importante abrir um espaço em nossas vidas pra ela se expressar, cumprir seu curso e passar.
Já a depressão, do ponto de vista físico primeiramente, é uma desestabilização neuroquímica que produz uma tristeza continua, prolongada e em diversos graus de profundidade. Perde-se a motivação, o desejo o sentido de estar vivo. Nos sentimos anestesiados, sem nenhum estimulo interno que nos conduza ao engajamento.
A depressão pode ser leve, moderada ou grave. Pode ser disparada a partir de eventos externos como perdas irreparáveis, ou pode ser uma tendência hereditária, ou os dois juntos.
Do ponto de vista da terapia Transpessoal, observamos também que a depressão, chega como um chamado para de mudança de vida. É como se de repente a vida nos tirasse o chão, para olharmos o seu real sentido e propósito e escolhermos novas direções e possibilidades, que nos conduzirão a expansão de nossa consciência e um modo de viver ainda mais autêntico e interconectado.
A depressão precisa de tratamento, justamente por levar a uma desistência de continuar vivendo.
O tratamento da depressão, passa por várias etapas, dentre eles,
- A aceitação;
- O reconhecimento da necessidade de apoio e ajuda, incluindo a terapêutica, onde poderemos olhar sem culpa, nem vergonha pra nossa vida e pra estas dores, para esta desistência de viver, e sermos escutados e amparados no processo de renascimento para uma nova fase do viver. A terapia nos ajudara a reencontrar o sentido e proposito e nos fortalecerá no caminho do resgate de si mesmo, da reconexão e recuperação;
- A paciência com você e seu processo e com os outros que podem não entender o que está passando,
- O compromisso com o tratamento e práticas saudáveis de autocuidado que ajudarão a psique e o corpo restabelecer o equilíbrio, favorável à recuperação do bem estar;
- Em muitos casos se faz necessário tratamento medicamentoso, justamente para ajudar na reorganização neuroquímica com a orientação de um médico psiquiatra.
Agora vou sugerir algumas práticas que você pode fazer em casa que também poderão ajudar
Aromaterapia– Coloque num difusor de aromas óleos essência de laranja, mandarina, olíbano, baunilha, cipreste, espruce, gerânio, mimosa, lotus azul. Esteja sempre perfumado com um cheirinho que gosta.
Automassagem – Com um creme ou óleo vegetal, acrescente umas gotinhas dum óleo essencial que seja agradável pra você, dos óleos que falei anteriormente e acrescente umas gotinhas de um perfume que te faz sentir bem. Pode ser o perfume de um ser querido, esfregue com delicadeza nas mãos e vá massageando dedo por dedo, sempre do punho para a ponta dos dedos ou da palma para a ponta dos dedos. Pode massagear também os braços e o centro do peito, a face (com delicadeza e não ultrapassar 1% da mistura dos óleos essenciais e não usar os cítricos, pois podem manchar com exposição a luz). Depois passe para os pés.
Hooponopono- Prática do auto perdão e do perdão ao outro.
Exercícios de Aterramento – Grounding. Experimente pisar em superfícies de diferentes texturas e temperaturas com os pés descalços e atento a respiração e percebendo as diferentes sensações.
Música– A boa música pode fazer milagres, pois é um dos melhores moduladores emocionais. Anote algumas músicas do período de sua vida em que você se sentiu muito bem e feliz. Comece escutando as mais suaves. Se puder use fones de ouvido.
Olhe ao redor– Observe o seu entorno e veja se tem alguém realmente precisando de ajuda em algo. Pode ser algo que pareça muito pequeno para você. Experimente fazer pequenas gentilezas.
Cuidar de algo – de uma plantinha ou animalzinho (pode ser até mesmo alimentar um animalzinho de rua)
Atividades prazeirosas- Fazer algo que sempre te proporcionou prazer.
Acompanhamento terapêutico– sem dúvida para ajudar a trabalhar as raízes da depressão e encontrar apoio, recursos e ferramentas internos para a reorganização física, psíquica e emocional.
Vou encerrar contando uma história que aconteceu a muito tempo, numa vila perto das montanhas do outro lado do mar (baseado no conto budista “O Grão de Mostarda”)
Todos conheciam Marta, ela fazia o pão mais gostoso da redondeza, e a sua dor com a triste e repentina perda que sofrera de seu esposo num barco de pesca que virou. Seu brilho e alegria desapareceram por mais de 12 luas cheias, mas seguiu em frente com o pequeno Matias pra criar, único filho do casal, que se tornou a sua razão de viver.
Não muito tempo depois, o pequeno caiu doente e não resistiu. Marta desolada seguiu o conselho dos anciãos a quem fornecia o pão, e foi atrás do sábio curandeiro, pois se havia alguém que poderia devolver a vida ao pequeno, era ele.
Com o pequeno nos braços, correu tanto, que quase virou vento e do outro lado do rio em prantos colocou o corpo do filho a frente do velho sábio curandeiro. “Por favor Mestre. Ele é tudo que me restou. É o Sol nos meus dias. Devolva-lhe a vida e eu serei sua serva fiel.”
Um brilho de esperança iluminou sua fisionomia, quando o bondoso homem lhe segurou as mãos e disse. “Filha, volte ao Vale e traga até mim uma pequena semente de mostarda negra de uma casa, cuja família não tenha perdido nenhum de seus entes queridos. Então seu filho será trazido a vida”.
Marta saltou confiante, agora era só questão de tempo. Em todo o Vale não seria tarefa difícil, pois a mostarda era como o sal, estava em todas as casas.
E assim foi, de casa em casa, e antes do entardecer, ela já havia percorrido toda a Vila, escutado muitas histórias. Todos, ou pela peste, pela guerra, por parto, por idade, ninguém havia escapado da visita do Anjo da Morte, pais, filhos, avós, amantes, esposos, todos já haviam molhado o chão com as lagrimas da despedida.
Marta amava muito seu pequeno, então resolveu prosseguir até a última Vila do Vale antes de chegar a noite, mas as histórias se repetiram. Na última casa, a família estava reunida e feliz e a convidou pra passar a noite até decidir o que faria. Era uma família simples, só de mulheres, pois os homens também haviam sido levados. E ali, ouvindo histórias daquelas mulheres, e assando com elas o pão, Marta compreendeu no seu íntimo a tarefa daquele velho sábio e sentiu gratidão. Então voltou em silencio e sepultou o seu pequeno em paz.
Conta-se que até hoje existe no Vale uma pequena padaria comunitária, Estrela da Manhã, que produz o pão mais saboroso da região, e que a receita teria vindo de uma curandeira chamada Marta que ensinava a todos que passavam por ali com o coração partido, a arte de assar pães, enquanto contavam suas histórias e suas memórias, superando sua dor e reencontrando o sentido de viver.